Morre Mary Terezinha, ícone da música gaúcha
A música popular gaúcha perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas. Morreu nesta segunda-feira (30), em Porto Alegre, aos 79 anos, a cantora e acordeonista Mary Terezinha, célebre por sua longa parceria artística com o cantor Teixeirinha. Segundo seu filho, Alexandre Lima Teixeira, Mary faleceu em casa, onde se recuperava de uma fratura no fêmur causada por uma queda.
Mary Terezinha começou sua trajetória ao lado de Teixeirinha ainda na adolescência. Juntos, formaram uma das duplas mais populares do sul do Brasil, conquistando plateias por décadas. Mais do que apenas uma parceira musical, Mary foi também atriz, estrelando 12 filmes ao lado do cantor, muitos deles sucessos nas bilheterias regionais.
Nos palcos e estúdios de rádio e TV, sua presença era marcante. Ao longo da carreira, participou de centenas de shows e se tornou uma figura querida e reconhecida em todo o Rio Grande do Sul. Com seu inseparável acordeon, ajudou a popularizar gêneros como vanerão, rancheira e a música campeira para além das fronteiras do estado.
Apesar do afastamento dos palcos nos últimos anos, Mary mantinha viva a memória de sua trajetória. Em entrevista concedida em 2022, afirmou com emoção:
— Eu fui feliz. Sou feliz. O que vivemos foi um milagre.
Nova fase: da música popular à fé
Após se batizar na Igreja do Evangelho Quadrangular, Mary redirecionou sua arte para a música gospel. Durante cerca de 20 anos, compôs e gravou seis CDs com letras próprias, sempre exaltando a fé cristã, mas sem abandonar suas raízes musicais gaúchas. Seu estilo permaneceu fiel aos ritmos tradicionais, traduzindo a espiritualidade por meio do vanerão, da rancheira e de melodias populares.
Problemas de saúde, como dores na coluna e nas costas, a fizeram interromper as apresentações. Durante a pandemia, seu isolamento foi ainda mais intenso.
— Ela ficou muito tempo sem falar, sem sair de casa. Foi um período bem difícil — contou o filho Alexandre, que é fruto do relacionamento entre Mary e Teixeirinha.
Legado eterno
Além de sua importância artística, Mary Terezinha deixou marcas também fora dos holofotes. Durante os tempos em que atuou na emissora que daria origem ao Grupo RBS, construiu um relacionamento forte com os ouvintes, trocando cartas que ela mesma fazia questão de responder:
— Mexe demais lembrar dessa época — disse em uma de suas últimas entrevistas.
Mary partiu com a serenidade de quem reconheceu o valor da própria jornada. Sua vida foi um retrato do Rio Grande do Sul profundo: da música à fé, do cinema à simplicidade das respostas aos fãs. Sua ausência deixa saudade, mas sua história permanece como parte fundamental da cultura gaúcha.